sexta-feira

Digam lá se eu não era uma gaja gira?

 Tinha um ar de requila que me dava uma certa pinta. Fazia cara feia ao que não gostava. Não papava grupos, se não gostas põe-te a mexer que a vida galopa. Até atirava microfones ao lago, só não sabia jogar futebol, mas jogava, não sei bem se era futebol, metia-me no meio dos rapazes quando eles andavam atrás da bola, sem regras ou nomes pomposos, ouvia-os a ralhar, mas sempre achei que fazia parte da coisa. Por vezes ficava sentada, num banco improvisado e gritava para dentro do campo: joga, passa, corre, marca... O som era igualzinho ao do estádio mas com menos mães ofendidas e muito menos partes íntimas enunciadas. Comia pão com manteiga molhado no café com leite da minha avó, ao som de: vens sempre toda suja. Era a vida avó, nessa altura ela não se entretinha a comer pipocas ou era eu tão despachada que nunca deixava a vida assistir, ela tinha mesmo de mostrar do que era capaz. E quando ela se demorava em conjecturas, eu dava-lhe uma cotovelada e dizia-lhe em tom firme: há muita coisa para fazer, despacha-te lá com isso. Saudades tuas, miúda!

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