segunda-feira

Acelerada

Nasci acelerada. Treino todos os dias para o pé direito da vida não carregar muito forte e haver um tempo para respirar, mas depois lá oiço ao fundo o Gabriel, "Não é preciso respirar, é preciso viver". Talvez por isso sou tão avessa às rotinas, fazendo "mudastis" radicais que não abanam só as cortinas da casa. Por vezes lá tem de vir o betadine para ajudar nas escoriações, mas normalmente tudo acaba por passar com o tão desejado ou amaldiçoado tempo. Fora estas, procuro que todos os dias exista algo de especial para que o dia conte e não se confunda com todos os outros de tão igual. Compreendo quem encontra estabilidade nas rotinas e que precise delas para se organizar, como acordar e fazer tudo pela mesma ordem todos os dias, mesmo que possa fazer pela ordem inversa que tudo irá dar certo. Ir ao mesmo café, gostar de se sentar naquela mesa, atravessar a rua na mesma passadeira e até mesmo comprar o jornal no mesmo sítio. Há quem vá de férias, todos os anos para o mesmo local e eu entendo, mas a mim a rotina desorganiza-me, destabiliza-me, desencanta-me. Preciso de ver diferente, de sentir diferente, de ouvir diferente, mesmo que seja o mesmo, mas a perspectiva tem de ser outra para o sabor não ser sempre tão demasiado igual. Tudo isto porque passei por um acidente e tive em fila por demasiada curiosidade dos transeuntes e perguntei-me, "Porque esta gente pára para ver? Não estão a sair dos carros, por isso nada de produtivo daqui sairá. Será para preencher o espaço da novidade, aquele que a vida não permite alimentar? Logo terão assunto para destruir as conversas conhecidas e falarão do acidente, dos feridos e do trânsito...".
O que uma simples fila de carros causa na cabeça de quem nasceu desprogramada... vai mas é trabalhar...

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