terça-feira

Era uma vez um mágico...

...que todos os dias entrava no seu escritório de paredes brancas, sentava-se na sua cadeira preta e olhava para o papel branco com a frase: "a vida pode ser (espaço) ou (espaço), tu escolhes!" Ele agarrava no seu carimbo redondo e zás, zás, colocava o M em cada espaço e sorria, trabalho perfeito. Mudava a folha e lá estava outra e o som ouvia-se novamente: zás, zás e logo de seguida um sorriso. O dia continuava assim acompanhado do sorriso a cada duplo som. Agora ouvia-se um som diferente, o apito de final de dia. Arrumava o carimbo e as folhas com espaços na gaveta e corria para casa. No caminho apanhava o metro e sentava-se na janela junto ao senhor de fato preto, aquele que o ensinou que não só os mágicos o vestem. Os óculos o fizeram denunciar, nenhum mágico os usa, apostava que seria feiticeiro, todos guardam segredos e fórmulas e... óculos. Não percebia o fato preto, mas havia-se resignado. A senhora de cabelo branco nunca lhe trouxe dúvidas, entrava todos os dias de guarda chuva, fizesse sol ou chuva incapaz de enganar um mágico! No momento da saída imaginava o caminho que percorreriam e sorria. A barriga já dava horas quando a chave rodava a fechadura. Lá dentro a sua esposa imaculadamente vestida de branco o esperava no meio de tachos e panelas, cozinhava maravilhosamente, um dia fazia arroz de pato, outro dia pato com arroz. Ninguém cozinhava assim, pensava ele ao lhe dar um beijo de boa noite. Os filhos corriam para ele com um beijo e o relato de um dia perfeito, sentavam-se à mesa, agarravam nos talheres e comiam cada garfada até o prato ficar sem resto para contar história. Lavam os dentes e iam para a cama, assim como ele, precisavam de descansar de um dia magnificamente perfeito. Vestia o seu pijama de riscas, olhava a sua esposa que já trajava a camisa de noite branca e dizia-lhe: tens de descansar ao mesmo tempo que lhe dava um beijo na testa de boas noites. Assim era todos os dias até àquela noite em que ela lhe perguntou: trouxeste magia? Não entendeu. Não era isso que acontecia todos os dias? Como ela não entendia que a cada carimbo era isso que ele desenhava para ela? Ela respondeu: tu escolhes o M errado todos os dias e sem o outro M já não consigo fazer desenhos de outra cor. Olha para nós, precisamos de ti, tu és o mágico! Olhou para ela, deu-lhe outro beijo na testa e pensou: "as mulheres são seres tão insatisfeitos..." Sorriu e pensou: "zás, zás... Perfeito."

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